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Incendeia: um bate-papo com Camila Máximo

  • Lucas Silva
  • 20 de ago. de 2024
  • 4 min de leitura

Talento. Uma palavra composta por sete letras que, de acordo com o dicionário, significa Aptidão incomum que, natural ou adquirida, leva alguém a fazer alguma coisa com maestria; engenho: possui talento para o magistério. Aqui, fazendo uma conta matemática, se pegarmos “talento” e somá-lo com “esforço” o resultado será “futuro”. Futuro de uma cena, de um movimento que é, será e dará voz para aqueles que precisam ser escutados. E esse raio chamado “futuro” caiu lá em Campinas.


Camila Souza Máximo, de 20 anos, é estudante de midialogia na Unicamp, em Campinas. Ela faz alguns freelas de fotografia e na área de audiovisual tendo feito algumas produções autorais. “É o que eu mais gosto de fazer”, destaca ela. Uma infância e adolescência  rodeada de amor, carinho e cuidado por parte da família, mas que, infelizmente, marcada por episódios de exclusão, sendo deixada de escanteio por alguns colegas de sala. Algo muito memorável, como ela explica:


“Isso me marcou muito, porque eu já era uma criança tímida, acho que isso fortaleceu ainda mais a minha timidez.”

Reprodução: Camila Máximo

“Minha mãe, ela… pô, ela me deu um amor imensurável, assim, sabe? Na minha vida. E muito apoio também. Ela tem um papel central porque o jeito que ela vive, o jeito que ela viveu a vida dela, o jeito que ela trabalhou muito, o jeito que ela se esforçou muito, assim, na vida dela e passou muita dificuldade na vida, é uma pessoa que eu admiro.”


A relação com a mãe, uma pessoa que ela fala com muito carinho, foi essencial para que ela conseguisse abrir os olhos e rever a companhia das pessoas que a cercavam. Nesse momento, a mãe dela percebeu e conversou com ela sobre a situação, fazendo com que ela entendesse que aquilo não era saudável. Camila, apesar da timidez, se encontrou em um novo grupo de amigos que eram como ela. Através de experiências com diversos tipos de pessoas, sendo elas agradáveis ou não, ela conseguiu encontrar o lugar dela no mundo, saber quem ela era, o que ela pensava, o que ela representava e o que ela queria se tornar.


“No Ensino Médio, eu fui fazer teatro. Uma coisa muito f*da… era, hoje em dia não é mais. Mas que era muito f*da na minha escola era justamente o teatro. Tinha um teatro muito forte. A professora de teatro era muito daora. Eram produções que podiam sair pra fora da escola, sabe? E aí eu arrisquei, mano. Foi um bagulho que me fez entender, de uma vez por todas, quem eu queria ser, sabe? Que me fez ver a Camila que eu queria pro meu dia-a- dia.”


Uma militante fervorosa ligada aos movimentos estudantis, Camila encontrou em um dos vários episódios de descaso nas faculdades públicas uma oportunidade de aparecer para o mundo e, com apenas duas câmeras, uma do tio e outra de uma amiga, documentar o que estava acontecendo com o bandejão da Unicamp, que havia sido terceirizado.


“A empresa do bandejão foi trocada, o bandejão da Unicamp foi paralisado e nisso o controle passou para Funcamp, que é um órgão ali dentro da Unicamp, mas o controle do bandejão já não estava mais sob poder público. Comida estragada, pessoal passando mal, inseto na comida, vidro na comida. Foram surgindo denúncias, muitas denúncias.  Quem trabalha no bandejão é um grupo de terceirização, não é muito grande pra quantidade de comida que servem.”

Reprodução: Camila Máximo

E em meio a discussões sobre os ocorridos, as paralisações e protestos que estavam acontecendo, ela decidiu usar o que estava aprendendo nas aulas, juntou com a paixão por documentários e produziu o “Incendeia”, documentário autoral que retrata os efeitos negativos da terceirização no ambiente acadêmico. Uma produção que é vista com muito orgulho e que, apesar das dificuldades, valeu muito a pena toda a trajetória quando ele foi disponibilizado para o mundo.


“Relatos de como foi importante registrar um momento que foi tão forte, falando principalmente das terceirizadas. Porque as trabalhadoras, se alguma fala alguma coisa é rua, sabe? Então conseguir registrar isso, ouvir os relatos das pessoas sobre como acharam importante…”


Assim como a maioria dos estudantes no começo do curso, Camila tinha um sonho, um objetivo profissional com a arte dela, mas que ao decorrer das experiências que ela foi tendo, ela percebeu que queria algo diferente do que queria no começo. Ela queria algo com propósito e não algo superficial, algo que impactasse e fizesse a diferença.


“Quando eu comecei a me interessar por cinema eu ficava querendo fazer produções nível Hollywood, entendeu? Hoje já não tenho essa mesma vontade. Tudo isso é um processo que acompanha o desenvolvimento da minha consciência também. Se for pra definir o principal pilar do meu sonho nessa carreira é conseguir viver dela, viver de audiovisual, não só de produções audiovisuais de cinema ou documentários, que aí eu sei que é um pouco mais difícil de viver disso, mas assim, consolidar meu nome enquanto uma pessoa da fotografia, uma pessoa que as pessoas venham procurar, sabe?”


Amor (do latim amore) é uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a desejar o bem a outra pessoa ou a uma coisa. Outra pessoa mencionada com bastante carinho e afeto é Luiza, a namorada da Camila.


“Acho que um dos meus sonhos é realmente conseguir casar com a Luiza. Eu sinto aquela história ridícula que ela é uma pessoa de outras vidas. Não sei. É rídiculo. Mas não sei, com ela dá certo, entendeu? Eu nunca pensei em casar com ninguém, eu pensava em me casar e construir uma família, mas não algo tão concreto assim com ela.”

Reprodução: Camila Máximo

Camila é uma mulher muito determinada, perseverante, o tipo que quando coloca algo na cabeça, nada tira até que se realize. Uma mulher com marcas, machucados sentimentais dolorosos, mas que a fizeram se encontrar no mundo com os sonhos, desejos, ambições. Uma mulher que quer impor seu nome na cena do audiovisual, determinada a ser gigante, mas também uma mulher com a humildade de saber quem é, quem está com ela e que no final, um dos maiores sonhos da vida é se casar com a mulher que lhe faz feliz diariamente. Esse é o futuro do audiovisual brasileiro.


“O que tiver que ser será meu. Tá escrito nas estrelas, vai reclamar com Deus.”


-Racionais Mc’s, Vida Loka pt.2







Esse texto é um trabalho de Lucas Silva, escritor convidado para o projeto "prisma vol. 2".

1 Comment


Guest
Aug 20, 2024

Excelente matéria. Dando voz a quem merece ser ouvido!

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