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A comunicação Semiótica em “O Nome da Rosa”: Mais uma forma de consumir cinema

  • Gabrielly Martins
  • 2 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Obra do cineasta francês Jean-Jacques Annaud transforma espectadores em detetives e comunica com maestria o poder da Semiótica no audiovisual.


Reprodução: Divulgação.

A Semiótica tem como um dos principais ramos de estudo a investigação e interpretação dos signos que se apresentam nos diferentes meios de comunicação. No cenário cinematográfico, ela se manifesta principalmente na forma como uma obra é percebida, observada e como seus espectadores criam suposições a partir da experiência visual. Muitos elementos fazem parte desse experimento, como explicado pelo filósofo e semiótico Charles Sanders Peirce, conhecido como “Pai da Semiótica” por suas contribuições à teoria dos signos.


Nesse sentido, trilha sonora, montagem, enquadramento, roteirização, direção, atuação e outras características do cinema são elementos essenciais para tal experiência. Na obra “O Nome da Rosa” do cineasta francês Jean-Jacques Annaud, acompanhamos os personagens William de Baskerville e Adso de Melk em uma jornada de investigação de uma série de assassinatos que assolam um remoto mosteiro italiano medieval.


O thriller de 1986, baseado na obra homônima do escritor italiano Umberto Eco, conversa com o espectador aos poucos, no que podemos chamar de investigação sherlockiana, um processo de criação de hipóteses e provas através dos indicativos encontrados pelos dois personagens.


Além daquilo que William manifesta em sua fala, comunicando sua percepção do que acontece no local, uma pegada de sangue na camada de neve, um estilhaço de vidro, uma mancha de tinta em uma folha ou até mesmo um sintoma de uma enfermidade são o que emerge como um dado primordial, tornando-se, então, o guia para a resolução dos crimes.


Junto ao protagonista, quem assiste tem à disposição um cenário completamente instigante e constituído de um material que alimenta o julgamento que damos aos personagens identificados como suspeitos por Baskerville. Por se passar em um monastério e apresentar a diferença entre as ordens religiosas presentes na época, a abordagem sacrossanta e a diferença ideológica entre os franciscanos e dominicanos também nos diz algo.


O diretor Jean-Jacques Annaud se utiliza de forma inteligente da matéria prima criada por Umberto Eco para transmitir como a imoralidade das figuras de poder do mosteiro é cúmplice do assassino e como os papéis desempenhados ali impactam na percepção de realidade dos fiéis, que, em um primeiro momento, acreditam que os assassinatos são resultados de uma interferência sobrenatural ou demoníaca.


Os símbolos da fé e todas as demais representações de Deus impedem que os crentes e demais residentes compreendam a presença humana em um ato tão horrendo quanto assassinar, ainda mais quando as suspeitas recaem sobre homens, supostamente, de fé.


Assim, a apresentação da religião como ferramenta de doutrinação são elementos verbais e não verbais ricos, que tornam a jornada de Baskerville e Adso ainda mais “detetivesca”, e é complementar ao ar de mistério característico da trama sempre que a razão confronta a autoridade da igreja.


Reprodução: Divulgação.


Obras modernas e a teoria dos signos


O uso da teoria para aprofundar uma narrativa não é encontrada somente em obras tidas como complexas, tal qual a do cineasta francês, mas também pode ser encontrado em obras modernas, a exemplo das inúmeras releituras de Sherlock Holmes, inspiração para a criação do personagem Baskerville, e também em adaptações para televisão, sendo um grande exemplo a renomada série “Dr. House”.


Tanto os diversos “Sherlock Holmes”, que surgiram em filmes, séries, animes e outras animações, quanto o médico Gregory House usam de métodos semelhantes, deduzindo supondo, até que seus casos aparentemente impossíveis tenham uma solução.


E essa perspicácia dos personagens se completa através da sagacidade dos cineastas e produtores, que sabem o que filmar, como filmar, como criar os diálogos e como apresentar as provas ou prognósticos compreendidos pelas personas que compõem as obras, para então expor a quem assiste, de forma gradativa, tudo o que compõe o clímax da história.


A linguagem como técnica de filmagem é o que desperta a sensação de que precisamos investigar aquele cenário junto aos sujeitos, nos dedicando a investigar ao lado deles e assim, ter nossas próprias compreensões. Mais do que a busca pela verdade, e por finais conclusivos, o bom uso de teorias faz com que possamos usufruir por completo da experiência enquanto amantes da sétima arte: experimentar, analisar e testar, para então saborear — ou em alguns casos, se decepcionar — com o que investigamos.


Reprodução: Divulgação.

O Nome da Rosa” e outras obras modernas que usam explicitamente da Semiótica para se comunicar são um prato cheio para aqueles que desejam enxergar além do entretenimento, mesclando a diversão com uma reflexão mais profunda diante daquilo que consumimos.











Esse texto é um trabalho de Gabrielly Martins, escritora convidada para o projeto "prisma vol. 2".

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