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O sucesso das distopias, como Jogos vorazes atravessou idades

  • Barbara Ankudovicz e Ketlyn Paes
  • 19 de mai. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 15 de mai. de 2024

Entrevista


Reprodução: Divulgação

A Capital de Panem controla 12 distritos e realiza um sorteio para que um menino e uma menina, com idades entre 12 e 18 anos, sejam forçados a competir em um evento anual televisionado. Os jovens lutam até a morte até que haja um vencedor e isso se repete por 74 anos, até que Katniss Everdeen torna-se o rosto da revolução.


Essa sinopse exemplifica o gênero distopia que, no grego, significa lugar ruim e remete a uma sociedade autoritária controlada pelo Estado, criando condições de vida insuportáveis e, muitas vezes, dividida por castas.


“O entretenimento está intimamente conectado à expressão política.“ - Michele Vaz Pradella

No cinema, esse gênero teve o início do seu auge por volta de 2012 com a adaptação do primeiro livro de “Jogos Vorazes”. Logo, as produtoras viram uma oportunidade de adaptar outros livros distópicos como “Maze Runner”, “Divergente”, “A Hospedeira”, entre outros, mas nenhuma foi capaz de agradar os fãs com o mesmo êxito. O interesse por distopias se tornou algo tão grandioso que, além das adaptações, novos livros do gênero começaram a ser publicados durante aquele período, como “A Seleção” e “A Rainha Vermelha”.


O último filme foi uma febre entre os adolescentes que se viam na protagonista Katniss e, agora, aguardam o lançamento da adaptação do prelúdio que está previsto para novembro de 2023.


Conversamos com Michele Vaz Pradella, repórter e colunista do jornal Diário Gaúcho, com ênfase em textos sobre seriados e literatura, para entender melhor como o gênero foi um acontecimento tão marcante na última década.


Do seu ponto de vista, você acredita que exista um motivo específico para o sucesso do gênero (distopia) nos anos de 2012 a 2016?


R: Acho que se formos observar o mundo nos últimos dez anos, estamos todos, de certa forma, vivendo em uma distopia. Muitos dos elementos que até algum tempo atrás eram possíveis apenas na ficção, têm sido vistos no mundo real. Então, vejo como um fenômeno natural o fato de termos não só o surgimento de novas distopias, mas também o retorno às listas de mais vendidos de clássicos como "1984" e "A Revolução dos Bichos".


Você acha que, por trazer personagens da mesma faixa etária, o público adolescente, se identificava com as histórias? E isso contribuiu para o sucesso?


R: Com certeza, quando os heróis são crianças e adolescentes, isso é um atrativo para que leitores dessas faixas etárias procurem por obras em que seus personagens favoritos podem ser de fácil identificação. Inconscientemente, os jovens leitores devem imaginar que poderiam, eles mesmos, viver aventuras desse tipo.


Com o lançamento do novo filme do universo de Jogos Vorazes, “A cantiga dos pássaros e das serpentes”, você acredita que as distopias podem voltar com a força que tinham antigamente?


R: Não sei, acho que os fãs estão em polvorosa, é natural que se sintam assim ao revisitar seu universo favorito. Da mesma forma, Pottermaníacos enlouquecem com qualquer novidade sobre a saga Harry Potter, por exemplo. Mas não sei se o gênero voltará a ter a mesma força. Acredito que a pandemia nos fez voltarmos nossas atenções para outros tipos de literatura, como forma de escape, já que nos sentimos vivendo no meio de uma distopia real.


“Acho que se formos observar o mundo nos últimos dez anos, estamos todos, de certa forma, vivendo em uma distopia.” - Michele Vaz Pradella

A estreia de "Jogos Vorazes" atraiu para o cinema quase 2 milhões de fãs durante sua exibição, já no lançamento do penúltimo filme da saga, "A Esperança – Parte 1", o número de espectadores apenas no final de semana de estreia foi equivalente ao total do primeiro longa, mostrando o sucesso avassalador da franquia.

Em busca de um ponto de vista de alguém que acompanhou o ápice do gênero no audiovisual, tratamos do assunto com Kauan Muradi, 19, estudante do terceiro período da graduação de cinema e fã assíduo do estilo de narrativa.


Você acompanhou as distopias entre os anos de 2012 a 2016 ou algum tempo depois? Se sim, o seu ponto de vista e a forma como você interpretava as histórias na época, mudou?


R: Acompanhei sim! E com certeza, mudei principalmente meu olhar político sobre as coisas, aspectos sociais e em como o entretenimento está intimamente conectado à expressão política. Obras como “Jogos Vorazes” e “Divergente” trouxeram uma perspectiva mais assiduamente "rebelde" na dinâmica classe contra estado, ou sistema, denotando e reiterando que a história da sociedade é levada em conta enquanto embasamento para essas ficções, que trazem, por sua vez, alegorias que podemos tardar em perceber, ou passivamente assimilamos. Logo, antes eu via tais obras como mais do mesmo no quesito ação, mas com roupagens de uma aventura sofrida, pós-apocalíptica e carente de revolução, características percebidas vendo e revendo, com minúcia e atentamento.


Você se via nos personagens ou nas histórias? De que forma?


R: A identificação aconteceu muito pela posição social em que as personagens encontravam-se nessas histórias, com protagonistas e coadjuvantes que traduziam a classe proletária, e pela boa construção de personagens ser a proximidade identitária com traços sociais, econômicos e suas intersecções com recortes políticos próprios de grupos oprimidos, fez-se concluída uma boa ponte entre tais obras e seus consumidores, como aconteceu comigo.


Você acredita que o novo filme adaptado, “A cantiga dos pássaros e das serpentes”, pode gerar o retorno das distopias com a força de antigamente?


R: Como estudante de cinema e seus fenômenos socioculturais, acredito que não com afinco, mas por essas obras irem contra muitas convenções de gênero cinematográfico, tal qual os filmes de faroeste já foram, os de histórias em quadrinhos e terror ainda são, pode ser que seus produtores executivos futuros, diretores e roteiristas apostem nessa temática de formas que ainda não foram exploradas. Suzanne Collins foi bastante perspicaz em trazer um universo rico e que, dentre todas as distopias, conseguiu ir para além do apocalipse, fazendo isso ao ambientar as problemáticas de uma sociedade já distópica, mas que luta dentro destes parâmetros, e não contra algo metafísico. É como se ela trouxesse inovações para os debates dentro de suas obras.


Você está empolgado com os próximos lançamentos do gênero?


R: Caso vinguem, conquistem a crítica - e o público - uma vez mais, e isso signifique sinal verde para eventuais próximas produções, com certeza! É uma febre positiva. São filmes facilmente comerciais, se comparados aos que fizeram naquela época, e poderiam reviver a ida das pessoas para consumir dentro das salas. São filmes com muitas interpretações e livros cheios de conteúdo criativamente inovador.


“São um fenômeno cultural indispensável.” -Kauan Muradi

1 commento


Membro sconosciuto
20 mag 2023

Amei!!! Sou super apegada a jogos vorazes por ser uma das primeiras distopias que li/assisti, se tornou uma experiência única e ler mais sobre nessa entrevista me deu uma nostalgia enormeee

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