Cinema nacional conquista o público e “Nosso Sonho” se torna a grande surpresa do ano.

Barbara Ankudovicz
1 de out. de 2023
2 min de leitura

Atualizado: 15 de mai. de 2024

Crítica

Lançado no dia 21 de setembro, a cinebiografia brasileira “Nosso sonho”, traz para as telonas a história de Claudinho & Buchecha, a dupla de MCs que dominou as paradas e arrastou multidões na década de 90 e começo dos anos 2000.

A obra de Eduardo Albergaria é narrada pelo ponto de vista de Buchecha e acompanha desde o início da amizade dos cariocas que, de maneira simbólica, começou quando Claudinho salvou a vida de Buchecha em São Gonçalo, mas logo perderam contato. A partir disso, a trama navega pelos problemas familiares que forçaram o jovem a se mudar para Salgueiro e coincidentemente o levou a reencontrar seu “faixa”, apelido que representava a força da amizade de ambos.

Tendo em vista o histórico de filmes nacionais que acabam caindo num buraco de estereótipos, principalmente quando situados na periferia do Rio de Janeiro, “Nosso sonho” é capaz de se desviar desse caminho e entrega uma narrativa poética, que soube encaixar as letras das músicas da dupla de acordo com o contexto das cenas.

Além da poesia presente, a grande magia do filme se encontra nas atuações de Lucas Penteado e Juan Paiva. Ambos transmitiram com maestria a essência da dupla carismática e contagiante, com uma química que transborda as telas e toca o coração do público, sendo impossível controlar a emoção ao assistir a irmandade daquelas duas figuras se fortalecendo ao longo dos anos.

”O que brilha na mente da gente, nem a morte pode apagar.” – Buchecha

Se a obra pudesse ser definida em apenas uma frase, essa seria a ideal. O diferencial desta cinebiografia, que pode ser um ponto negativo para alguns espectadores, está no fato de não ser uma narrativa voltada para o palco, ou seja, mesmo se propondo a contar a ascensão de Claudinho & Buchecha, o foco principal não está no estrelato. É claro que é possível acompanhar o sucesso da dupla, mas tudo isso é feito através de saltos temporais, que em alguns momentos podem dar um ar apressado para a trama.

“Nosso sonho” foca exatamente naquilo que ganhou o coração de milhares de fãs ao redor do país, o companheirismo e o brilho deixado em cada palco pelo qual os artistas passavam. Olhando de longe, era notável que não existia “Buchecha sem Claudinho”, mas o filme dá abertura para que o público possa olhar mais de perto a relação que os dois tinham e entender a importância de Claudinho na vida de Buchecha, que o ensinou sobre ter fé, perdoar e em diversos momentos salvou a vida do amigo como um anjo.

“O Claudinho era um anjo, e anjos não precisam de explicação.”

Acima de tudo, Eduardo Albergaria soube transmitir em sua obra a delicadeza da vida e como ela pode acabar abruptamente, sem explicações. Mas o amor, os ensinamentos e as lembranças de nossas vivências perduram por gerações, podendo até virar cinema.