“Guerra Civil” narra a real brutalidade de um confronto armado através do jornalismo.
- Barbara Ankudovicz
- 25 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de mai. de 2024
Crítica (sem spoilers)
Em um ano marcado por eleições presidenciais nos Estados Unidos e confrontos armados ao redor do mundo, “Guerra Civil” chegou aos cinemas para dar um recado aos espectadores.
Pelas lentes do diretor Alex Garland, a obra acompanha os repórteres Joel (Wagner Moura) e Sammy (Stephen McKinley) e as fotojornalistas Lee (Kirsten Dunst) e Jessie (Cailee Spany), que correm contra o tempo em uma viagem até Washington para entrevistar o presidente dos Estados Unidos durante uma guerra civil que se alastra pelo país.

Caracterizado como um "road movie" (filme de estrada), a obra distópica conversa sutilmente com elementos de documentário e trabalha bem sua narrativa. Ao contrário de seus personagens que apressadamente atravessam o país, o roteiro consegue desenvolvê-los o suficiente para que o público se emocione em diversas cenas.
Como bom brasileiro, Moura transborda carisma ao interpretar Joel, o repórter engraçadinho que se sente eufórico em meio às explosões e tiroteios. O ator rouba a cena em diversos momentos com sua forte presença, mas em uma sequência específica, após um combate, o personagem de Wagner explode suas emoções dentro do carro, em um silêncio ensurdecedor, e deixa o espectador com os nervos à flor da pele.
Dunst finalmente consegue se destacar, sendo de longe seu melhor trabalho até então. Mesmo que minimamente e não sendo uma performance espetacular, a atriz é capaz de conduzir a apatia de Lee ao fotografar situações brutais e seu estresse pós-traumático é a cereja do bolo ao atingir o ápice no terceiro ato.
Ao abordar uma realidade tão próxima, Garland parece pisar em ovos ao não deixar explícito seu objetivo e acaba frustrando boa parte do público pela cautela, levando muitos a saírem das sessões dizendo que o filme é apenas um compilado de tiroteios e explosões, e vai de “nada a lugar nenhum”. A narrativa, de fato, não possui um background, mas entrar em detalhes com inúmeras explicações perderia tempo e sentido do que é proposto.
Guerra Civil vai além do óbvio e é nos detalhes que encontram-se as respostas. Em um diálogo com Lee, Joel desabafa sobre como “pessoas morreram por nada e a luta pela entrevista é em vão”. A triste conversa entre os dois é capaz de transmitir o que está enterrado na narrativa e entrega o diferencial entre esta obra e outras produções de guerra. Ao contrário dos filmes de propaganda, na qual os confrontos são justificados como “a solução” ou “a única resposta”, o trabalho de Garland expõe de maneira visceral e não polarizada as consequências de um combate armado, ressaltando que toda aquela brutalidade não levará a lugar algum.

Além de não pecar na crueldade de um cenário grotesco de guerra, o diretor traz para as telas a importância do jornalismo e mostra o quão longe os profissionais vão para informar uma sociedade que os descredibiliza cada dia mais. Através dos disparos das lentes de Lee e Jessie, a audiência se depara com o horror fotografado pelas jornalistas, o que sem dúvidas é a carta na manga do filme. A oscilação entre planos abertos e fotos, junto com as pausas silenciosas dos cliques da câmera em meio aos sons de bombas e tiros, foi uma escolha brilhante para projetar a narrativa.
Para os amantes de ação e drama (e Wagner Moura), a super produção da A24 certamente merece ser assistida e promete deixar qualquer um sem fôlego durante muitos momentos.
GUERRA CIVIL
NOTA: 8/10

ANO: 2024
DURAÇÃO: 1H49 MIN
PAÍS: ESTADOS UNIDOS
DIREÇÃO: ALEX GARLAND
ROTEIRO: ALEX GARLAND
ELENCO: CAILEE SPAENY, KIRSTEN DUNST, WAGNER MOURA, JESSE PLEMONS, NICK OFFERMAN, STEPHEN HENDERSON.
Em exibição nos cinemas.
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