Meninas Malvadas: mistura de pop e geração Z apagam o brilho do musical.
- Barbara Ankudovicz
- 28 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de mai. de 2024
Crítica
Vinte anos após o lançamento do filme original, adaptação do musical da Broadway “Meninas Malvadas” chegou aos cinemas pelas mãos de Tina Fey.

Como um verdadeiro telefone sem fio, o musical levado para as telonas se trata de uma adaptação da história cantada nos palcos da Broadway em 2018, que adaptou a clássica obra de 2004. Sendo assim, a perda de intenções e detalhes se tornam inevitáveis. Escrito por Tina Fey para os palcos e com um elenco capaz de expressar cada sentimento de seus personagens, o musical trouxe um ar moderno para a história uma vez contada no início dos anos 2000, sem perder a essência do grupo de adolescentes brilhantes e falsas, com um timing certeiro para as canções e piadinhas de ensino médio.
Em uma tentativa de, mais uma vez, adaptar a história de acordo com o cenário atual da cultura pop e o comportamento dos adolescentes, Fey escorrega nas próprias palavras e acaba levando a risca a frase “plástico não brilha”.
Ao tentar modernizar cada detalhe da obra, os instrumentais marcantes da trilha sonora da Broadway foram substituídos por sons genéricos e enjoativos de um pop qualquer, dando a sensação de que as canções saíram do filme A Escolha Perfeita - e acredite, isso teria sido um elogio, se tivesse dado certo. Além de, é claro, a icônica introdução da personagem Cady com a música It Roars foi descartada e trocada pela canção original What Ifs.
Escalada para viver a protagonista Cady Heron, Angourie Rice não entrega nada além de um rostinho angelical e vocais sem um resquício sequer de sentimento. A atriz consegue exercer seu papel durante o primeiro ato, quando a jovem Cady se muda para os Estados Unidos com uma bagagem repleta de inocência e otimismo, mas falha ao bater na mesma tecla até nos momentos de vingança da personagem. Fazendo com que muitos implorem para que Erika Henningsen ou Sabrina Carpenter apareçam para salvar o papel que interpretaram brilhantemente na Broadway.
Para se juntar a Angourie e formar uma dupla sem carisma algum, está Christopher Briney, que interpreta o tão desejado e pivô de toda a confusão, Aaron Samuels. Diferente de seu trabalho anterior, na qual interpreta Conrad Fisher na série O Verão que Mudou Minha Vida, Briney parece ter deixado todo seu charme na série e se torna indiferente e esquecível no musical.

Apesar de se tornar maçante assistir personagens que poderiam ser cortados da narrativa, o longa acerta em cheio ao trazer nomes como Reneé Rapp, que interpretou Regina George na versão dos palcos, Auli’i Cravalho (Janis), Jaquel Spivey (Damian) e Avantika Vandanapu (Karen).
De volta na pele da rainha do colégio, Reneé é a estrela do filme e ressalta o porque de ser a melhor a calçar os sapatos de Regina George no musical. A jovem é capaz de intimidar não apenas os estudantes como também o público do outro lado das telas com seus vocais e presença marcante, trazendo a esperança de que talvez o filme não esteja tão perdido assim.
Um ponto alto do musical é a forma como Janis e Damian ganham mais força e espaço durante suas aparições e a adaptação soube traduzir isso para as telas. A havaiana Auli’i, que deu voz a princesa Moana na versão norte-americana, e Jaquel são capazes de roubar o holofote voltado para a protagonista Angourie. Com vozes excepcionais, carisma para dar e vender e um humor certeiro, ambos trouxeram uma versão ainda melhor dos personagens apresentados em 2004 e Auli’i ainda carrega a melhor performance, sendo I’d Rather Be Me o momento com mais “espírito de musical” durante todo o longa.
Não poderia ficar de fora a maior surpresa, Avantika, que deu vida a memorável Karen da forma mais autêntica possível. A jovem de apenas 19 anos carregou a verdadeira essência da personagem em cada fio de cabelo e, surpreendentemente, transformou sua performance de Sexy durante a festa de halloween em algo maior e melhor que a montagem da Broadway.
Tentando aproximar a narrativa de seu público-alvo - também conhecido como Geração Z - e transformá-la em algo que pode ser interpretado como “olha, é um reflexo da sociedade atual”, o filme decai ao inserir inúmeros tiktoks no meio de cenas e ao se preocupar com o que é politicamente correto, esquecendo de levar em consideração que a obra se chama Meninas Malvadas e a rivalidade presente no colegial é o foco principal da história.
Fraco, frágil e sem brilho, Meninas Malvadas flutua no mesmo caminho que o grupo de patricinhas da adaptação. É possível se manter entretido e usá-lo para tampar um buraco por algumas horas, mas em certos momentos a vontade é de descartá-lo.
MENINAS MALVADAS
NOTA: 6/10

ANO: 2024
DURAÇÃO: 1H52 MIN
PAÍS: EUA
DIREÇÃO: SAMANTHA JAYNE E ARTURO PEREZ JR.
ROTEIRO: TINA FEY
ELENCO: ANGOURIE RICE, RENEÉ RAPP, AVANTIKA, BEBE WOOD, AULI'I CRAVALHO, JAQUEL SPIVEY, CHRISTOPHER BRINEY, TINA FEY.
Em exibição nos cinemas.
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