Nights like these: A euforia para criar memórias.
- Barbara Ankudovicz
- 16 de mai. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 17 de mai. de 2024
Crônica
Em 11 de maio, o cantor Louis Tomlinson arrastou uma multidão para o Allianz Parque e se apresentou em um estádio pela primeira vez em sua carreira. A crônica a seguir destaca a experiência de Barbara Ankudovicz.
A ansiedade tomava conta de três amigas, que desesperadamente atualizavam um site de revenda de ingressos, na esperança de conseguir comprar mais um, 24 horas antes do grande evento.

O motivo de tamanho desespero? Fazer uma surpresa para Ketlyn, a quarta integrante do grupo de amigas, que ainda não tinha ingresso para o show. Se tem uma coisa que aprendemos ao longo de nossos quase 2 anos de amizade, é que criar memórias com pessoas que amamos deixa tudo ainda mais especial, e não faria sentido vivenciar esse show sem ela.
Com muita insistência, o ingresso foi comprado e, enquanto Izabela ia para o show da cantora Karol G - após comprar a entrada na manhã daquele mesmo dia, Martha e eu preparamos a surpresa com um cartão personalizado, enquanto milhares de “ai meu Deus!” e “eu não acredito” eram enviados em um grupo no Whatsapp.
Lágrimas e reflexões se fizeram presentes com a entrega da surpresa. Uma vez nos disseram que é bonito ver o amor e carinho que temos umas pelas outras, e que essa amizade é para a vida. E de outras vidas. E poder compartilhar momentos assim, não tem preço.
O que antes eram apenas 24 horas, pareciam ter se tornado 24 meses. As horas não passavam e as conversas se resumiam em qual roupa usar, que horas chegar no estádio e a falta de miçangas para fazer pulseiras. Na tarde daquele 11 de maio, enquanto ouvia a setlist do show, o refrão de “Night Changes” me levou de volta para a pequena Barbara, de 12 anos, que cantarolava as músicas de sua banda favorita a caminho da escola. “Nós estamos envelhecendo, amor / E eu tenho pensado nisso ultimamente / Isso já te deixou louca? / A rapidez com que a noite muda?”, é nostálgico e levemente assustador pensar que, após 10 anos, inúmeras coisas mudaram e eu estava ali, me arrumando e prestes a realizar mais um sonho de longa data.
A caminho do estádio, me encontrei com Martha e Ketlyn no metrô, apenas uma hora e meia antes do show começar. A noite quente de São Paulo apontava que chuva não seria uma preocupação e já não haviam mais filas ao redor do Allianz Parque. Essa foi a experiência mais tranquila que tivemos em um show, se não fosse pela preocupação do ingresso comprado de terceiros.

Ao passar pela catraca e ouvir a confirmação do ingresso, junto com os gritos do público que vibrava com a banda de abertura, nós três nos entreolhamos e pensamos na loucura que fizemos para estar ali. Nada além da vontade de criar mais memórias juntas. Enquanto caminhávamos em direção a entrada da pista comum, ouvimos uma pessoa nos chamando e antes mesmo de dizer sim, para o que acreditávamos ser um fã querendo tirar uma foto no painel exposto, demos de cara com um microfone que estampava: MTV.
Direito de imagem assinado, conversa vai e conversa vem, concedemos nossa primeira entrevista para as redes sociais da emissora, rindo e pensando em como as coisas acontecem na hora certa.
A cada show, a sensação de entrar naquele estádio e se deparar com o palco, permanece única. Caminhando pelo gramado, em direção ao mar de gente, a banda Giant Rooks levava a multidão à loucura com um som e carisma que conquistou até quem nunca tinha ouvido uma música sequer.
Poucos minutos nos separavam do tão aguardado momento, o frio na barriga só aumentava e já havia perdido a conta da quantidade de fotos tiradas. E então, escuridão total e uma gritaria ensurdecedora tomou conta do Allianz Parque. Era possível ouvir o som de uma caneta permanente em contato com um vidro, enquanto um vídeo de Louis escrevendo “Faith in the Future (Fé no Futuro)” aparecia nos telões.
A voz do cantor ecoava pelo estádio, ao som de “The Greatest”, que deu início ao show com luzes, fumaça e fogos de artifícios, enquanto admirávamos a figura masculina presente no palco, a poucos metros de nós. Louis mantinha a energia do público lá em cima, era como um passeio de montanha russa, incapaz de esconder o sorriso no rosto com toda aquela euforia.

Ter “We Made It (Nós Conseguimos)” na setlist daquele show se tornou uma coincidência levemente engraçada - e até mesmo especial, na qual o artista marcava um grande passo na carreira solo, se apresentando pela primeira vez em um estádio após o fim da boyband One Direction, e nós estávamos ali, depois de longas horas atualizando um site para comprar um ingresso.
Aquela noite de sábado, para muitos ali, se tornou um espaço de realização, onde nossas crianças internas puderam viver aquilo que sonharam por muitos anos. Ouvir “Night Changes” e “Where Do Broken Hearts Go” ao vivo, me proporcionou momentos que apenas minha banda de infância poderia proporcionar, uma felicidade capaz de abrir um sorriso em meu rosto apenas relembrando as emoções de pular e cantar as letras com todo meu coração.
O show se resumiu a serotonina. Cada música, cada melodia, cada letra, nos tirava do chão e nos fazia cantar a plenos pulmões, mesmo com o corpo pedindo por uma pausa. Era essa adrenalina e a de “Out of My System”, que estávamos contando os minutos para viver, afinal, como a própria música diz: “Eu só quero ir mais rápido…/ Pegue qualquer coisa que possa carregar / E deixe tudo para trás…/ Porque eu só quero me sentir vivo”.
Assim como em todo show que vivenciamos juntas, sempre terá uma música na setlist que represente nossa amizade, e a canção da vez era “Silver Tongues”. “Você sabe que são em tempos como estes que somos mais felizes / Em noites como estas vamos lembrar daquelas piadas estúpidas”. O desejo de aproveitar esse momento juntas era tão grande, que a única gravação do palco que temos é um vídeo de 36 segundos - todo tremido e com uma cantoria desafinada.
“Você sabe que quando estou com você, sou muito mais feliz”. Enquanto Louis cantava, o Allianz Parque se tornou apenas nós três, Izabela e Geovanni, através de uma chamada de vídeo, pulando e sorrindo feito crianças, que cantavam, ou melhor, berravam entre si. Confetes vermelhos voavam acima de nós, enquanto fogos de artifícios iluminavam o céu escuro de São Paulo e, ao fundo, era possível ouvir o sotaque britânico carregado do cantor, que dizia o quanto amava cada um de nós. “Você sorri para mim e diz: é hora de ir / Mas eu não sinto vontade de ir para casa”.
Louis se despediu do palco e fui engolida por um forte abraço de Martha e Ketlyn, que repetiam várias vezes o quão lindo tinha sido tudo aquilo. As luzes do estádio se acenderam e imediatamente me joguei no chão, o corpo cansado de pular e o coração a mil pedindo por mais uma música. E os olhos cheios de lágrimas. Um misto de emoções que, assim como em “Silver Tongues”, eu não sentia vontade de voltar para casa, mas sabia que estava voltando com a Barbara de 12 anos tão feliz e realizada quanto a de 21.
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