You can let it go
- Barbara Ankudovicz
- 22 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de abr. de 2024
Crônica
No dia 13 de dezembro de 2022, o cantor Harry Styles se apresentou no Allianz Parque, em São Paulo, para cerca de 40 mil pessoas. A crônica a seguir destaca pontos da experiência de Barbara Ankudovicz.
O céu de São Paulo amanheceu cinza naquele treze de dezembro de 2022. A chuva tomou conta das ruas da cidade e, enquanto me arrumava ao som de “Adore You”, os planos de saírem de casa ao meio-dia, foram por água abaixo.
O medo de chegar atrasada só aumentava e o tempo parecia passar rápido demais, ao contrário do trânsito na Barra Funda, que fez com que diversas pessoas descessem dos carros e caminhassem ansiosamente até o estádio. “Bom show!”, eu ouvi após validarem meu ingresso e então, ao andar na arquibancada, ao redor de todas aquelas pessoas sorridentes com plumas coloridas e roupas exageradamente criativas e brilhantes, o tempo finalmente desacelerou.
A chuva de vento aparecia de surpresa hora ou outra, na tentativa de acalmar os ânimos dos fãs, mas a animação era tanta que isso era só mais um detalhe para o cenário daquele momento, onde luzes azuis e rosas preenchiam o Allianz Parque enquanto ensaiávamos o projeto em homenagem ao terceiro aniversário do álbum “Fine Line”. A noite foi se aproximando mas o tempo começou a parecer uma eternidade, como se mais alguns anos me separassem do momento que tanto sonhei.
Mesmo com o palco vazio, a playlist pré-show entretia a multidão e o entusiasmo tomou conta de vez quando “Best Song Ever” ecoou pelo lugar, junto com a voz de milhares de fãs da antiga banda, que cantavam a plenos pulmões. Não há explicação para a sensação de poder cantar e dançar uma música que marcou minha infância, daquela forma.
E então, o toque do despertador de Harry Styles começou a ecoar pelo estádio. As luzes ficaram coloridas e ele entrou no palco ao som de “Music For a Sushi Restaurant". Gritos. Lágrimas. Euforia. É impossível colocar em palavras as emoções sentidas ao vê-lo no palco e escutar sua voz ao vivo.
“Meu nome é Harry…”, com seu sotaque britânico, ele se apresenta para a multidão após nos dar boa noite, em português, e dizer que estava com saudades. É impossível ficar parada ou não perder a voz ao longo do show, se ainda me restava algum resquício de afinação, eu certamente perdi ao cantar “Keep Driving”, uma das minhas músicas favoritas, com todas as forças.
Harry possui uma energia única. É nítida a felicidade e luz que ele transmite quando está performando, contagiando cada pessoa naquele lugar. "Ninguém nesse ambiente está sozinho, sintam-se à vontade para ser quem vocês são.” e o que ele diz logo no início do show, após se apresentar para o público, se torna realidade. A atmosfera criada por ele e pelos fãs, é capaz de transformar um estádio lotado em um lar temporário, onde, naquelas duas horas de show, somos livres para ser a nossa versão mais verdadeira. Somos livres para dançar, chorar, cantar, usar as roupas e acessórios mais coloridos e brilhantes que tivermos - mesmo que não combinem entre si - tudo isso sem receber um olhar de julgamento.
Esse sentimento de acolhimento é capaz de nos proporcionar uma alegria tão genuína que, durante “Matilda”, com a garoa, as luzes brilhantes no estádio todo e Harry no centro da passarela cantando “Você pode seguir em frente / Você não precisa se desculpar por ir embora e crescer”, me dei conta de que onze anos haviam se passado e as músicas dele me acompanharam em diferentes momentos da minha vida e, então, percebi o quão realizada - e abraçada, meu eu de nove anos se sentia por estar vivendo aquilo. Não fui capaz de conter as lágrimas.
As músicas seguintes me proporcionaram um dos meus momentos favoritos do show, a parte que o britânico chama de “disco medley”, onde as melodias extremamente contagiantes fazem com que todos dancem sem parar e, durante “Treat People With Kindness” os fãs dançam o passinho da música juntos e formam trenzinhos.
Com o show se aproximando do fim, a plateia gritava e implorava para que Harry cantasse “Fine Line”, a última música do álbum de mesmo nome, que pouquíssimas vezes foi cantada em seus shows por conta da grande carga emocional.
“Kiwi” encerrou a noite deixando todos nas alturas. Styles se despediu e as luzes se apagaram. Nós sentíamos que a noite não tinha acabado. E então, o vimos voltar para o palco, apenas com seu violão roxo que combinava com sua roupa brilhante.
Os primeiros acordes de “Fine Line” começaram e tudo parecia ter saído de um sonho. Cada pessoa naquele estádio lotado possuía uma ligação diferente com aquela música. Assim como em “Matilda”, os versos soavam como abraços, só que dessa vez mais profundos.
A lembrança de uma pessoa especial, que adorava essa música e esperava ansiosamente para compartilhar aquele momento ao meu lado, veio à tona. E ao som de “Nós ficaremos bem”, notei uma única estrela no céu, acima de mim. Senti que aquela pessoa estava ali comigo, me acompanhando.
Ao caminhar em direção a saída, acenando as plumas laranjas, me encontrei com três amigas e em um misto de lágrimas, purpurina e sorrisos, nos abraçamos. Quatro pessoas diferentes, mas que haviam realizado o mesmo sonho, depois de longos anos.
Assim como a mensagem de “Fine Line”, após um longo período conturbado, eu tinha a certeza de que tudo ficaria bem. Somos linhas tênues e ficaremos bem. Refletindo sobre isso no caminho de volta para casa, percebi que o céu que havia amanhecido cinza, agora se encontrava repleto de cores e vida.

Comments