You're so golden
- Ketlyn Paes
- 22 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de abr. de 2024
Crônica
No dia 13 de dezembro de 2022, o cantor Harry Styles se apresentou no Allianz Parque, em São Paulo, para cerca de 40 mil pessoas. A crônica a seguir destaca pontos da experiência de Ketlyn Paes.
Desliguei o despertador que anunciava às seis horas da manhã e logo percebi a chuva que inundava a cidade de São Paulo no dia 13 de dezembro de 2022. Me arrumei e, propositalmente, eu vesti rosa dos pés à cabeça.
Enfrentei o metrô com um sorriso no rosto - o que é relativamente incomum - e cheguei na estação Barra Funda que fica bem próxima ao estádio do Palmeiras, o meu único objetivo era estar lá dentro o mais rápido possível.
Perto das 13h a garoa começou no local, gerando um incansável tira e põe da capa de chuva. Depois de três horas os portões se abriram e, mesmo que os seguranças dissessem que havia lugar para todos, a multidão caracterizada para a "Love On Tour" sabia que era necessário se imaginar em uma corrida olímpica.
O espetáculo começou antes do show quando as arquibancadas fizeram olas com luzes e eu, na pista, admirava já sabendo que aquele dia estava perfeito. Quando anoiteceu todos se encontravam de pé esperando o show de abertura da cantora jamaicana Koffee.
A contar desse momento as capas de chuva não importavam, era viver o momento ao todo, se entregar por completo sem se importar com a possível gripe nos próximos dias.
“Best Song Ever” tocou para aquecer todo mundo, a multidão gritava em harmonia, foi como voltar no tempo. Todas aquelas meninas reunidas realizando as suas mini versões enquanto cantavam uma música da One Direction.
O show oficialmente começou quando Harry Styles entrou cantando “Music For A Sushi Restaurant” e 40 mil pessoas gritaram a plenos pulmões. “It's 'cause I love you, babe (É porque eu te amo, amor) / In every kind of way (em todos os sentidos)”. Harry Edward Styles estava com uma roupa brilhante e, de alguma forma, era como se ele soubesse de cada um que estava ali e sentia a minha declaração de amor, que era a mais desafinada e sincera que o meu corpo poderia manifestar.
“Golden” veio em seguida e ela é perfeita para que eu diga “essa é minha música”, simplesmente uma do tipo que dá vontade instantânea de viver a vida como se não houvesse amanhã - mas com o Harry sempre há.
“Boa noite, São Paulo. Boa noite, brazucas. Boa noite, Brasil, estava com saudades.” Poucos cumprimentos - com o sotaque de alguém que não fala o idioma, diga-se de passagem - geram o sentimento de tamanha euforia quanto o de um cantor britânico que vem pra cá de quatro em quatro anos. Lágrimas, risos, apego, fascínio e tudo que há de bom, era isso que aquele estádio experimentava.
“Adore You”, “Daylight”, “Cinema”! A cada música eu me sentia mais viva! Como foi possível fantasiar tanto um momento e ele ser ainda mais emocionante? Todos os meses de espera que antecederam o show não foram capazes para o meu cérebro construir uma narrativa tão boa quanto a realidade daquele dia.
“Keep Driving” foi o momento de calmaria considerando que “Satellite” veio em seguida e ele dançou bem na minha frente - na verdade, muitos metros de distância nos separavam, mas eu só reparei horas depois enquanto visitava os vídeos no meu celular - e os pés do mundo inteiro bateram em sintonia, ou foi o que pareceu.
Durante a apresentação, ele tirava alguns momentos de pausa, e em um desses espaços uma melodia familiar iniciou-se. Por um segundo houve um estranhamento - será que é alucinação? - e, então tudo ficou claro. a introdução para “Late Night Talking" foi com "Baile de Favela".
Alguma brecha de tempo foi ocupada com o público levantando luzes azuis e rosas, a ideia veio de um projeto de fãs esperançosos por conta do aniversário do segundo álbum de estúdio do cantor. "Fine Line" fazia três anos naquela noite e a multidão suplicava para escutar a música homônima que, por acaso, ele havia retirado da setlist há muito tempo.
Depois da gritaria em “As It Was”, momento de união de toda a américa latina em protesto a discrepância entre os números de show nos Estados Unidos e no resto do mundo, “Kiwi”, teoricamente, fechava a noite.
Mas o ex-integrante de uma boyband dos anos 2010 não desaponta. As luzes se apagaram, mas não por muito tempo, e ele surgiu com uma bandeira de arco íris amarrada na cintura - porque ele havia rasgado a calça - e um violão.
Eu sabia. Todos sabiam.
“Put a price on emotion… (Coloque um preço na emoção)” e o resto de dignidade que ainda existia em mim desapareceu por completo. eu berrei enquanto um número inexplicável de lágrimas caíam dos meus olhos. O momento mais singular da minha existência. Todos os quase 18 anos faziam sentido a partir daquele minuto e fariam sentido em todos os seguintes.
A saída do estádio foi caótica, um grupo de amigas que tentava se encontrar e as únicas referências eram dois colares de plumas comprados na 25 de março, além, é claro, dos olhos marejados após toda a emoção vivida nas últimas horas. As quatro fãs riam de nervoso contando as experiências, ignorando que os ônibus logo parariam de rodar a cidade.
Por todo o caminho de volta pra casa - com as plumas e os brilhos que não faziam sentido para o resto das pessoas dentro do ônibus que só queriam estar em casa agora que já passava da meia noite - eu tinha muita coisa na cabeça e, principalmente, no meu coração - o ano que se encerrava tinha sido um divisor de águas em uma mente que quis se destruir inúmeras vezes, mas a mais forte era a mensagem final que o Harry passou para aquele estádio inteiro.
Nós ficaremos bem.

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